sábado, 15 de setembro de 2007

O que está nos olhos de quem vê?

Vontade de escrever é uma merda. Tenho livros pra ler, uma blusa de crochê pra terminar e fui obrigada por uma vontade inútil a sentar na frente do PC com o intuito de elaborar um maldito texto, que não se sobre o que será nem se será publicado. Mais uma coisa: como é que o Oswald de Andrade era tão pegador se era mais feio que briga de foice? Essa literatura faz coisa!!!

Era uma quinta-feira se não me engano. Estava calmamente transitando entre as plataformas pra trocar de ônibus, era o início da tarde e eu ia para o trabalho. Distraída, procurando moedas dentro da bolsa percebo aqueles mesmos olhos de antigamente vindo em minha direção. Era como se só os olhos permanecessem os mesmos, enquanto todo o resto foi envelhecido e distorcido. Quem sofre de miopia sempre pensa: “será que meu grau aumentou ou não reconheci tal pessoa por que ela mudou demais?“. Talvez ele tivesse piorado muito desde a ultima vez em que o vi, mas talvez fossem os meus olhos que estivessem diferentes, enquanto o resto de mim continuava inalterado.

A sensação que me ocorre sempre que encontro alguém que não vejo há muito tempo é de que eu continuo igual. A minha cara é a mesma, as piadas são as mesmas... é como se eu estivesse congelada durante todo o tempo, parada no mesmo lugar enquanto as outras pessoas continuam vivendo. Eu passo meu tempo servindo de coadjuvante na vida das pessoas ao meu redor, pulando de vida em vida pra trazer uma alegria, uma tristeza, uma indiferença a mais sem que nunca as pessoas façam algo que eu já não esperava delas.

As vezes penso que pessoas como eu são ideais para ter amigos maus, traiçoeiros e mentirosos. Parece contraditório um amigo traiçoeiro, mas não é. Você sabe o que aquela pessoa foi capaz de fazer com as outras que a consideram amiga e mesmo assim, você não consegue se afastar daquela presença certamente daninha. Você conhece tal pessoa a ponto de saber que ela não se importa com nada alem de si mesma, e sabe disso não por dedução própria, mas por que essa mesma pessoa faz questão de deixar bem claro que não faria o menor esforço para estar a seu lado e que não abriria mão de nada por isso.

Mas mesmo assim você não se afasta. Como bom coadjuvante você tem que permanecer próximo aos personagens principais ou é esquecido e deixa de existir. E afinal de contas, ao final de quaisquer contas, é melhor existir sendo um coadjuvante do que desaparecer por ser um papel principal medíocre. Mas nada disso chega a fazer diferença, porque aqueles olhos já passaram e, sem me notar, sumiram na multidão deixando para mim apenas a sua rápida lembrança e uma duvida: será que não me reconheceram por que mudei ou porque seus olhos hoje vêem diferente do que viam antes?

3 comentários:

Arobed Omissirev disse...

O MINISTÉRIO DA SAÚDE ADVERTE: este é um texto fictício, levá-lo a sério pode causar danos cerebrais, impotência sexual e verrugas na ponta do nariz.

Anônimo disse...

de quem eram os tais olhos que vc viu?

Nayana disse...

Brilhante. Do título ao comentário.